sexta-feira, outubro 11, 2013

Cenas de crónicas não escritas


Se apontar uma vida passada, com todo o respeito pelo autor, teria sido um João do Rio, que deambula pela etnografia carioca, levantando o pó dos livros, desdobrando as badanas das vidas secretas, dissecando os humores e os pensamentos mais psicanalíticos dos personagens que ouviu, sentiu, observou, conviveu e intuiu. 
O Rio-cidade tem esta geografia de personagens peculiares, de homens que fazem dragões que parecem tão reais quanto as minhas mãos e os passeiam pela Lapa às onze da noite. O Rio-cronista tem a personalidade de um curioso analista, antropólogo, jornalista, que se funde, por vezes, com os personagens da suas histórias. Há algo mágico na capacidade de transpor a realidade carioca, que parece tão ficcionada, inverosímil para um pedaço de papel, virtual, ou na tradução de um apontamento mental. Levo o caderno cheio de notas, notas de cenas para crónicas que nunca escreverei e outras que num ato de auto-disciplina me policiarei para imortalizar. Nesse caso, terei de voltar a João do Rio, como expiação de uma penitência em falta.

Sem comentários: