quinta-feira, junho 21, 2012

Lenine é vírus de incubação crónica e eu tô infetada

Donde esta veio há mais, mas convém degustar, lentamente. Meu amado Lenine, semana passada, em Toulouse. Sem filtros, máscaras, tratamento de imagem, sem retoques, apenas zoom (70-200mm e marca de água, com direitos de autor)


quarta-feira, junho 20, 2012

Rio+20

Na boa: de que adianta um documento higienicamente aprovado por 193 "líderes mundiais", nessa Rio+20, para o desenvolvimento sustentável - aliás conceito higienicamente ignorado pelos mesmos senhores do mundo na hora de brincar com calculadora - sem medidas concretas, compromissos, critérios, punições... Passos em diante para uma economia sustentável, preservação de meio ambiente, sustentabilidade quotidiana nos direitos fundamentais? Tudo isto soa-me sempre a uma pesada e tácita hipocrisia diplomática. É o papel, a teoria. É a mesma coisa que fingirmos que não vemos, não ouvimos e não denunciamos... É pouco muito pouco, é um nada!

terça-feira, junho 19, 2012

A Calcedónia não é um fenda, é nós


Se me tivessem dito que iria subir pedregulhos sobre pedregulhos, sem poder voltar, durante uma hora, com uma Go Pro na cabeça, roçar a bunda na pedra,  passar entre fendas de pedras seculares, resvalar granito abaixo, ver abismo e gelar, esmurrar os joelhos, subir pelo corpo de uns e outros (ora joelho, ora ombros, ora braços), com a necessidade de escaladora semi-profissional, eu não acreditaria. 

Pior: eu nem sequer teria alinhado. Eu e mais quatro, que o António, o quinto elemento, estava com vontade por todos nós, era bem capaz de ir sozinho e dizer que nos poderíamos encontrar ao fim do dia, enquanto, com certeza, escalaria pedra sobre pedra, qual lagarto que se agarra à geologia. Era toda uma tontura vê-lo subir àquelas pedras. Mas pior era quando, minutos depois, nos apercebíamos que teríamos de fazer o mesmo. 


Primeiro passar as mochilas, depois... bom, depois transpor gigantes de pedra, sempre a subir, que a coisa era agreste, íngreme e ainda bem que ninguém se lembrou do filme 127 horas, em que um alpinista fica preso no Canyon. Lembrar não lembramos mas A. fez questão de referir ("Vá pessoal, espero que nenhum de vocês tenha visto o filme 127 horas". Só podia estar gozar né?).  Acho que, por isso, a adrenalina acabou por nos anestesiar e uma vez lá, de lanternas munidos e o farnel na mochila (ao menos fome não passaríamos), seguimos como equipa maravilha. O Paulo na retaguarda a servir de escada, A. como batedor, e as miúdas, nós, na obediência a confiar nos homens das cavernas. Deve ter-nos vindo alguma reminiscência Neandertal e lá achamos que o instinto de sobrevivência deles haveria de nos carregar a todas.  



 Foi por isso que subimos até ao céu. Rocha sob rocha. As mãos assolapavam-se à pedra, os pés serviam de estacas provisórias, os joelhos de molas e lá fomos. Ao início nada denunciava que assim seria. Um verde imenso, sim; havia declives e A. não teve bem a certeza onde era a entrada. Encontrou-a. "Alguém é claustrofóbico?". Mudos, todos. Ninguém teve coragem de perguntar o grau de claustrofobia a que ele se referia.


Advertência, depois das lanternas na mão: "Malta, a partir de agora é o seguinte: isto é trabalho de equipa. Não saímos dali de dentro sem a ajuda de uns e outros. Ajudamos sempre o que está atrás de nós. Eu vou à frente e o Paulo fica em último". Obedecemos e, mais uma vez, ninguém teve coragem de reagir quando viu a fenda da Calcedónia, em plena serra do Gerês. Quer dizer, o Paulo estrebuchou: "Tens a certeza de que nós cabemos ali?" Silêncio. E seguimos. 


Primeiro veio um arrepio na barriga, depois uma ansiedade no peito, depois uma coisa que nós não sabíamos o que era, mas que eu quis pensar que era a tal da adrenalina. À medida que avançávamos, mais íngreme se tornava a escalada e mais intransponíveis e maiores pareciam as pedras. Um jogo de corpo que se molda à pedra, e porque os membros servem para mais uma dezena de funções acrobáticas que desconhecemos. 

Houve uma pausa. Houve espanto. Houve êxtase e de que a vida é bela. Houve o júbilo de que este lugar é incrível. E, sim, muitos momentos em que apesar de A. conseguir transpor os gigantes, nada garantia de que cada um de nós conseguiria com tamanha destreza e competência. 





No final, uma sensação incrível de liberdade e uma paisagem de desafiar as leis que atestam que precisamos de ar para respirar. Acho que respirei uns segundos sem ele. O espanto é paralisia temporária. 




O almoço veio, em cima das pedras, vendo este vale imenso. E, agora que sabemos, seria apenas o reforço do que nos esperaria para a segunda parte. Acariciar ainda mais o céu, no topo das pedras que fazem a fenda da Calcedónia. De resto, só nos ocorreu o seguinte: de que toda esta aventura é um resumo do que precisamos para a vida: não há impossíveis, nem problemas intransponíveis. O que parece um pedregulho intransponível é apenas uma coisa à espera que lhe detectemos a falha, com o nosso corpo moldado, ajudados pelas pessoas que melhor nos querem. E eu tenho os melhores amigos do mundo!


Revista Pessoa on the road

Galera é o seguinte: a Revista Pessoa acabou de sair do forno e Mirna Queiroz e Luiz Ruffato (nossos cozinheiros) ainda estão na cozinha. Cheira a bolo de fubá, uxi, carambola, açaí. Nós na roça. Tem Guimarães Rosa, Marçal Aquino, mar sem fim e matéria minha sobre a Amazônia. É de comer. É a revista que fala nossa língua. 

Aqui fica o LINK. 

segunda-feira, junho 18, 2012

Falta justificada

Hoje é dia 18 e eu não sei por onde começar. A Dora diz que sou como o lume das bruxas, não paro quieta. Que não se me põe a vista em cima durante um mês e já se tem um mundo de desatualização. Até pode ser, mas não penso muito nisso. Só que agora que penso nisso, começa a fazer algum sentido. Isso uma vez que há memórias recentes que me parecem tão longínquas, remotas mesmo, como se anos tivessem, vestidas de um casaco puído, com ombreiras e remendos. 

Apercebo-me, e o tempo também disso é responsável, de que ardo em chama forte. Ardo em combustão lenta, pujante, com repulsa ao gelo da monotonia. A vida só faz sentido para mim assim, vivendo-a com uma intensidade que rompe, todos os dias, com uma estrutura consolidada, como se precisasse de nascer todos os dias, mas com uma memória de vivências e aprendizagens que não se sabe muito bem de onde virão. Reinventar é, pois, um mantra. 

Neste preciso momento em que escrevo, Junho, não o parece. O ano ainda só agora começou - relembro que o comecei a levar com um globo de espelhos de dancetaria (o que só prenunciaria, realmente, que seria um grande ano) - e já vou a meio dele, com tanto mundo, gente, vida e aprendizagens. E viagens. E páginas folheadas e wishlist 2012 deliciada. E com tanto ainda para fazer. Parece que o mundo me pôs numa estrada de Fórmula 1 e eu virei piloto profissional, por aí, a 300km/h, com muito estilo, qualidade e com a melhor equipa na pit stop.