segunda-feira, outubro 31, 2011

O dia D...é de Drummond

Carlos Drummond de Andrade. Olho as estantes e são escassos os livros do autor. Culpa minha que não lhe dei a devida atenção enquanto o Brasil foi pátria. Se algum consolo tiro das estantes, então pode ser este: "O Sentimento do Mundo". 

Mas tenho sempre algum receio dos poetas que falam do lodo do mundo, sem lhe ver alguma esperança. É que eu vejo sempre o melhor dele; tenho de ver. Foi para isso que para aqui vim. Para mostrar ao desespero e à angústia - muito esforço e desgaste - que há uma nesga de sol atrás das nuvens e que isso é importante. Porque as cinzentas palavras enegrecem o nosso sorriso e a capacidade de sermos felizes. É talvez por isso que quis catar o melhor de Drummond. Fica este "Mãos Dadas" e o vídeo em sua homenagem pelo Instituto Moreira Salles, defensor do dia D e onde se pode encontrar um acervo importante da obra do autor.


Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olhos meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
[presentes,
a vida presente

Drummond de Andrade, Carlos. "O Sentimento do Mundo", Coleção Folha, Grandes Escritores Brasileiros, Página 53, (2008) 



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