sábado, julho 09, 2011

Hilda, não sabe o que a espera

Nunca sabemos. E há algum tempo que não lhe falo, ainda que todos os dias haja uma voz adoçada que a ela me leva. Nem sequer tempo tenho tido para responder ao disparo de mensagens que dela me chegam todos os dias. (Confesso que desconheço como consegue ter tempo, embora o tempo do outro lado, ali, acolá, aqui, além, seja um movimento diferente).

Até postal cheguei a receber estes dias. Tinha a curva dos morros. E algo que suava a cidade maravilhosa, embora uma parte desses poros transpirados, nas texturas do papel amarelecido de sol quente das vitrines da papelaria, tivesse muito de Hilda. Por trás dele, unido por um clip, tinha outro: um carro antigo e letras rendilhadas: Havana. 


- Van, eu fui, você acredita?

E, agora, que Buena Vista Social Club está emancipado na vitrola, com violino, viola, saxofone e uma batucada Chan Chan respira, urge que lhe responda. 

- Lembras-te quando dançaste de rum na mão direita, em rodopio, dizendo que eras Cuba, depois de seres Rio? Nunca conseguimos entender como alguém pode sê-lo. Ser uma cidade, Hilda? Ainda mais uma que não se conhecia. E imaginar é distorcer um pouco mais a realidade.

Todos olhavam e, claro, repetias que De Camino a La Vereda, eras borboleta, e que esse movimento de rodopio já tinha influenciado o tempo, e unido Rio a uma Cuba. E estávamos nós a ver-te girar, como mundo. Eras mundo. E ser mundo é ser quinto elemento. 

Subiste as escadas. Era um bar. Bar que é casa de antiguidades. Estavas diletante, mas viajando no pó; e podíamos jurar que foste etérea. Que te fundias num Amor de Loca Juventud. Veio-te o delírio de te sentares em cima do piano. 

- Olha Van : é português: "Eliodoeo D'Oliveira - Lisboa". 

Aquilo ainda tocava, e por trás dos teus dedos, desafinados, mas em sintonia com mundo, que viver com essa intensidade é inveja certa à inércia, lia-se: "Rud IBach Sohn". Sabíamos lá o que isso queria dizer. Mas tu insistias que o mundo estava ali e não havia coincidências. Que rum era Cuba, tudo isto Rio e o piano Portugal. E que Portugal era todo o mundo, e todos os países em nós. Voltaste a rodopiar. Tiramos-te o rum e disparaste:

- Não façam isso. Eu não sei o que me espera! 

E nisto ele veio. 

-Señorita, me acompaña a dançar?

E foste a Cuba. 


Eu sei: efeito borboleta!



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