quarta-feira, julho 27, 2011

Das coincidências e dos sonhos


Bem sei que é um tema recorrente falar-se daqui das minhas vigílias pelo reino de Morfeu e pelo insondável não-lugar, quase distópico que ele será (não tenho certeza de que Italo Calvino tenha por aqui passado nas "Cidades Invisíveis, mas gostaria). E ocorre-me hoje que essa geografia não mapeada deve ser um celeiro, a cérebro fechado, onde se labuta com afinco e dedicação. Funcionará assim: os expeditos donos das mãos que os debruam, com novelos de várias cores, reúnem-se para decidir dos temas. Uma caixa (Pandora?) terá milhares de papéis e alguém arrisca pinçar um do imenso branco-homogéneo que a tinta da china os terá escrito.
Alguns, como sabemos, podem tornar-se realidade, por isso, é que ao mesmo tempo, alguém sonhará o mesmo que nós, parecido, ou até quem sabe, sendo os sonhos lugares, por vezes, escuros, o que para uns onírico é, para outros real será. Deve ser por isso que isto acontece: das coincidências entre a fantasia do sonho e o real premonitório.

Esta madrugada, os operários da fábrica dos sonhos, tiraram um papel cinzento. Enquanto eu sonhava que uma casa grande, não sei onde, digna dessa distopia, ardia- ardia, com sonante crepitar, altas labaredas e eu tentava a todo o custo, nessa fantasmagórica residência, salvar simplesmente isto: o material fotográfico; o computador; ao mesmo tempo que os livros tentavam arder até ao fim (ainda não tinham atingido o fahrenheit necessário para desaparecerem). 

Depois de tudo isto devo ter saltado de alguma janela, de mochila às costas e tentei chamar os bombeiros pelo 112. À primeira tentativa: ocupado. A segunda frustrada foi. A terceira uma voz e a chamada cai. À quarta, algo acontece e não me recordo. Até que alguém me começa a dizer que "não vale a pena, não vale a pena"; melhor que a casa arda até ao fim.  E um cheiro aziago, putrefacto, fumado (os cheiros nos sonhos é uma coisa incrível) chega às narinas. 

Enquanto isto persistia violentamente, sei-o agora, esta manhã, um incêndio na Quinta da Nogueirinha, em Torre de Moncorvo, Vieira do Minho, que já lavrou mata, eucaliptos e pinhal... O cenário é muito diferente do pesadelo, salvo as imponentes chamas. Há concomitâncias como estas que deveria ficar apenas no reino da ignorância, fadadas ao esquecimento. Mas, os deuses devem andar zangados. 

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