quarta-feira, maio 06, 2009

Seguindo Bielman A.


A 300 milímetros é perfeita para isto. Pus-me de sentinela nas janelas no 11º andar com vista para o céu da Anna Ullic, Mad Lorac Ahnisuol e Um. Às 10h em ponto saiu. Zoom in. 150 milímetros: As mesmas calças pretas vincadas, o guarda-chuva chaplin na mão esquerda e o corpo vergado mal saído da cama. Desceu a rua. Atravessou a ponte. Desceu as escadas. Mão no bolso (talvez puído de tanto esconder a mão, ir-à-máquina, lavar-à-mão, amaciador, sabão-em-pó; traças, aranhas e ácaros sub-reptícios que assentam patas por ali) e sacou uma nota. Zoom in. Foca. 300 mm. "Click". "Tac-tac". Vinte reais para um jornal e um maço de cigarros: "Carlton, por-gentileza". E só com isto o homem do quiosque pode passar os próximos dois minutos a praguejar. Não tem trocado? Será que o disse. "Humpf"..."Click". Virou as costas. Zoom out. Troco trocado. A passadeira. Volte-face. Vermelho-vermelho. Verde para os carros. "Vuuummm". Um. Dois. Três. Quatro. Um autocarro. Dois autocarros. Outro articulado. Azul, bordô, bordô, azul. "Vuumm". Vermelho. Vermelho. Pó. Fumo-de-escape. Moto. Camioneta. Poeira. Zoom in. 200 mm. A mulher que dança. A criança que grita. A mulher que corre. De ombros pesados (devem estar vermelhos de má circulação). Zoom out. Bielman A. não sorri. Vermelho. Vermelho. Verde. “Não há camiões a esta hora”. Bielman A. pensará. Zoom, mas sem click. Verde-semáforo-pedestre. A passadeira (desbotada, estragada, gasta – dos quilómetros de pés ali roçados: solas, solas, solas ardentes). Uma, a outra. Sobe a escada. Atravessa a ponte. Sobe a rua. Não chove. O guarda-chuva ciumento com o jornal partilha a mesma mão. A do bolso dorme com os sub-reptícios. Sem zoom suficiente para saber quantos. Entra. 2Switch off". Dez minutos de vida de Bielman A. por uma lente. Nada a declarar.

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