quarta-feira, outubro 15, 2008

Pedem demasiado

Que seja uma caixa sem fundo, e um baú de memórias! Que seja uma música, um balde de água fria, um vento quente em dias de desarmonia. Que seja um delicioso brownie, uma orquídea depois da rosa, com e sem espinhos, e às vezes até erva daninha. Talvez demasiado. Pedem-me uma nota de jazz para que desafine, uma crónica de costumes para logo engrenar num conto, depois outro. Pedem-me que seja uma história e o desalento. O alento e a sofreguidão. Pedem que seja uma letra, e sempre prefiro o alfabeto. Que seja uma almofada de penas ou um delicioso café acabado de fazer. Pedem-me demasiado! Que seja a inveja e a despreze. Que seja uma tecla; uma borracha implacável; uma ponta fina por onde escorre a tinta permanente, que goteja em vão, sem nunca fixar. Que seja só e cheia de gente. Um robô inativo obediente. Um rebelde em silêncio. Um copo vazio. Transbordante! O fio de navalha. O fio. A navalha! Moedas miúdas. Cheques impagáveis. Um corpo nu enrolado na areia. Um diamante, quando prefiro os seixos. Que seja um fósforo, um lume ardente queimado a cubos de gelo. Talvez me peçam demasiado para uma vida só!

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